Por Almira Farias
Durante mais de trinta anos de minha vida, vivi fora do Reino de Deus.
Conhecia sobre Deus e Jesus, mas não era governada por Ele. Quando criança, tive
experiências com Deus através de uma visão e sonhos, mas não tinha conhecimento
do evangelho do Reino de Deus. Conhecia apenas algumas histórias da Bíblia e me
emocionava com as músicas de louvor, mas não compreendia o Reino. Com 12 anos,
por causa de brigas e outros aperreios familiares, tive paralisia facial. Passei
quase um ano com a boca totalmente torta quando falava ou sorria. Destaco esse
fato da minha pré-adolescência porque briguei com Deus diante do espelho,
revoltada com minha situação. Pela misericórdia do Senhor, Ele não me consumiu
como eu merecia, mas decidiu mostrar quem Ele é para mim, como fez com Jó. Nessa
época, eu me tranquei muito, tornei-me introspectiva, vivia apenas para estudar.
Hoje percebo que de fato todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, pois certamente isso contribuiu para que eu saísse da multidão que vai
vivendo essa vida, sem questionar nada, e me tornasse um pouco diferente dos
padrões desse mundo. Percebi muito cedo que a felicidade era muito mais que ter
e estava nas pequenas coisas.
Na faculdade, encontrei um grupo de cristãs e com elas li todo o evangelho de
João. A Bíblia diz: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Embora não
tivesse ainda tido revelação de toda a verdade, passei a sentir a presença de
Deus. Lembro que nessa época comprei minha primeira Bíblia. Nunca vou esquecer a
alegria que senti e como achei o céu lindo naquele dia enquanto voltava para
casa no ônibus com a Bíblia na mão. Entendi o sacrifício de Jesus por mim e que
Ele era o meu salvador, mas não sabia exatamente de que estava sendo salva.
Achava-me uma boa pessoa, não tinha consciência da miséria da minha carne, nem
sabia o que significa o senhorio de Jesus em nossas vidas. Nessa época, parei de
rezar para Maria e me calava em vários momentos da missa, era uma luta que
travava sozinha. Embora tenha ficado próxima, parei antes da Porta do Reino de
Deus, não passei por ela. Estacionei e, como todo Cristão que estaciona, comecei
a andar para trás. Com o passar dos anos, fui vivendo cada vez mais distante de
Deus, independente Dele e alheia ao seu conhecimento. Minhas opiniões próprias
foram ficando cada vez mais fortes, minha mente passou a ser mais “moderna”,
mais de acordo com esse mundo. Percebo hoje o quanto a podridão da minha carne
começou a reinar nessa época. Exteriormente parecia impecável, mas era um
sepulcro caiado, limpo e bonito por fora e cheio de podridão por dentro. Quem
não está no Senhor, está sempre em densas trevas. A diferença é que na vida de
algumas pessoas essas trevas são mais aparentes, por exemplo, com envolvimento
em drogas, alcoolismo, prostituição ou coisas semelhantes. Em outras pessoas,
como era meu caso, essas trevas estão no oculto, no coração e na mente. Jesus,
em Mateus 5, versículos 20 em diante, mostra que o pecado é o mesmo, sendo no
coração ou visível em atos praticados.
Já estava casada e com meus três filhos quando me converti realmente há sete
anos, o mais novo tinha apenas um ano de vida. Arrependi-me de cada segundo do
tempo que perdi, por isso não me permito perder mais nenhum dia em minha vida.
Embora que muitas vezes erre, minha busca constante é fazer a vontade de Deus. E
sei que preciso Dele para isso. Nessa época, antes de me converter, apesar de
ter de tudo que se espera dessa vida, marido, filhos, profissão, carro,
apartamento, etc, não via sentido na vida, não sabia qual o propósito de eu
existir. Por isso, vivia entre altos e baixos, oscilando entre momentos de muita
alegria e de profunda tristeza. Havia em mim um sentimento de inconformismo com
o ritmo desse mundo. Lembro que eu ficava pensando se a vida era somente isso
mesmo: comer, trabalhar, dormir, ganhar e gastar dinheiro e tudo de novo. Nem
mesmo os filhos, aos quais, de maneira errada, devotava todo meu ser, preenchiam
esse vazio. Sentia-me também cada vez mais fraca, como um aparelho eletrônico
que está ficando sem bateria. Força, paciência, amor, tudo estava se acabando,
apenas saíam de mim e nunca entravam de volta. Nosso casamento ia indo do jeito
que dava. A forte educação moral recebida dos nossos pais ia sustentando as
coisas, mas havia dias que as nossas diferenças pareciam insuperáveis. Sem falar
que, como uma típica mulher do mundo, muito melindrosa e orgulhosa, eu colocava
no marido todo peso e responsabilidade de me fazer feliz e fazia cobranças
constantes disso para ele. Foi esse vazio que eu sentia e esse sofrimento que ia
e vinha que me fizeram buscar uma mudança de vida. Um irmão em Cristo do meu
trabalho na época resplandeceu a luz do Senhor para mim. Outro irmão, que também
trabalhava no mesmo local que eu, presenteou minha filha com uma fita do
Smilinguido que tinha uma música linda falando sobre o amor do nosso Criador.
Foi o suficiente para eu sentir uma saudade enorme de Deus, chorar e querer
voltar para perto Dele. Dessa vez, para muito mais perto e nunca mais sair.
Quando me batizei nas águas, podia até não ter todo o conhecimento teórico
sobre aquele ato, mas realmente naquele momento estava desistindo de viver por
mim mesma, abrindo mão de tudo e nascendo de novo para uma nova vida. Dessa vez
não foi aos pouquinhos, lancei-me para os braços do Senhor totalmente, sem me
segurar em mais nada. Apenas saltei para os braços Dele com todo meu ser. Minha
sede era tamanha e quanto mais bebia Dele, mais o buscava. Foi tudo tão intenso
e profundo que não dá para explicar em palavras. Tudo que eu queria era aprender
e obedecer e Ele me ensinava diretamente no espírito, na sua Palavra e através
dos irmãos. Passei a viver uma realidade diferente, mesmo estando ainda nesse
mundo, não era mais dele e nunca mais seria novamente. Após mais ou menos um
ano, meu marido também se entregou totalmente e se batizou. O Senhor havia
levantado irmãos que se juntaram a mim no clamor ao Senhor pela vida dele e que
pregaram o evangelho do Reino de Deus para ele. Quanto a mim, não precisava de
palavras, a minha mudança radical era muito impactante. Passei a respeitá-lo, a
buscar ser submissa (e isso é uma benção do Senhor para nós esposas), pedir
perdão pelos meus erros, mesmo quando a olhos humanos eu tinha razão, pois o
Senhor me ensinou que a ira dos homens não opera a justiça de Deus, e,
principalmente, passei a amá-lo com o verdadeiro amor, aquele que vem do alto e
que não se baseia em sentimentos mutantes. Dizer que nosso casamento foi
restaurado seria pouco demais, ele foi é totalmente refeito pelo Senhor, como
aconteceu também com o nosso relacionamento com as crianças. Mudança radical,
substituição total, antes império das trevas disfarçado, agora Reino de
Deus.
Não posso deixar de falar do apoio que sempre tive da igreja, especialmente
da minha discipuladora. Ela me ajudou e me ajuda a ter equilíbrio e andar no
Espírito, pois na carne sou impulsiva e desequilibrada, por isso digo que o
Senhor escolheu a dedo minha discipuladora para mim. Confesso tudo para ela,
pecado ou não, na dúvida estou lá falando para ela que sempre me escuta e me
conduz para o Senhor. Não tenho compromisso com minha reputação ou imagem a
preservar, isso ficou lá na Cruz. Meu compromisso é com o Senhor e não vou
permitir que esse tipo de orgulho atrapalhe minha comunhão com Ele, pois preciso
de sua Presença mais do que o ar que respiro. Nossos filhos também se entregaram
a Jesus e hoje caminham conosco no mesmo caminho que é Jesus, rumo ao alvo de
nossas vidas, que é Jesus.
Para finalizar, sou uma pessoa totalmente dependente do Senhor. Ele é minha
fonte de tudo, força, paz, alegria e tudo mais. Não tenho nada de bom em mim
mesma que não seja Dele. Até o meu juízo e sanidade mental dependem Dele. Dia
após dia, Ele me resgata e me sustenta. Jesus veio para os fracos e doentes. E
eu sou um deles. Na verdade, todos os seres humanos são, mas nem todos
reconhecem ou percebem. Graças a Deus que percebi a tempo. Meu amor por Jesus é
do tamanho da certeza que tenho que não sou nada sem Ele, ou seja, total. Eu
busco ao Senhor, não o que Ele pode me dar, nem mesmo o céu. Como alguém já
disse, o que seria do céu se Ele não estivesse lá, o meu Amado.
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